quarta-feira, 23 de abril de 2008

Romance Naturalista

Uma moça sentada em cadeira de plástico que dobra com o cigarro no entre dedos indicador e do meio da mão direita e com os cotovelos na mesa, usava uma regata rosa que deixava a tatuagem de mandala de cima do músculo do ombro à mostra. Ela tinha cabelos castanhos claros encaracolados. Os seios médios, porém com mamíolos que quando contraídos se assemelhavam a dedais de costura de porcelana que fossem postos na folga de espaço do algodão, esticando uma tenção e a atenção de quem olhava primeiro seu olhar que sabia querer sem parecer necessitar. Foi aí que me apaixonei o baixo-ventre... "E sempre o encanto de todas as idéias que despertavam em mim as catedrais, o encanto das colinas da Ilha de França e das planícies da Normandia, refluíam seus reflexos sobre a imagem que eu formava da srta. Swann, o que era estar inteiramente pronto para amá-la. Pois julgar que uma criatura participa de uma existência desconhecida em que seu amor nos faria penetrar é, de tudo o que exige o amor para nascer, aquilo a que ele mais se prende e que o faz desdenhar do resto. Até as mulheres que pretendem só avaliar um homem pelo físico vêem nesse físico a emanação de uma vida especial."(Proust)
Ví, então, que o baixo ventre era mais uma vez um problema material...

terça-feira, 22 de abril de 2008

... com olhos nos pés, ser parte ponta do organismo imenso-mundo,
irmão de árvores, com o ritmo mesmo do vento.
O quente do sol e o molhado de chuva.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

macroorganismo II

O carro estava lá, brilhava só por qualquer motivo. O vento e a árvore testemunhavam a existência do macroorganismo mundo do qual fazem parte os pés, nossas raízes.
Ela brilhava e andava um foco, chegou ao carro. No porta-malas, uma pluma na bolsa azul: ter uma pluma é ter algo.
O som do meu ambiente diminuía-se... Era como uma passagem do centro eu para o oco do entre-outros.
Eram formigas perdidas no quadrado de concreto, desperdiçando poucas horas de vida - ou seria libertando-se em desespero para poucas horas de vida.
Abraços e furacões! Veludo, Plumas, troncos de casca e furacões!
Fui-me com Liz...

terça-feira, 15 de abril de 2008

Despertador

Peguei uma rede ensolarada, um corpo de amor e crianças correndo e abraçando, tudo num golpe de pensamento e levei pro lugar do merecimento. Perdido em bahias, sonhos de praias e sons de bossas. Acordei cedo e arrumei caminho de chegar.

domingo, 13 de abril de 2008

"O que a cortina esconde só se supõe"

em vez de eu: nós!

Hoje eu quis morrer e quis que na hora da morte eu sorrisse, que bem na hora eu gritasse de arrepio de prazer, não que era como que para terminar o filme no final feliz, mas que fosse mesmo o sentir do como deixar o mundo seguir o caminho sem mais um atravessador. Era abrir mão de mim pra mim mesmo. Eu quis o morrer em forma de sinal de mais. Velório na praia cheio de inimigos sorridentes. Cor de rosa.
Eu quis morrer um tipo de vida como quem nasce um neutro de morte; e um neutro de morte como um horizonte de vida!

Canção Voltando

“A dor e a delícia de ser o que é”, o mundo...
quando alguma coisa começa
é porque ela já tá terminando... Vegetarianos,
daimistas, no drugs, namorados
do mesmo sexo...
tudo começa e...
já está acabando! Salve a refazenda!
E o Brasil, ai, o Brasil... significar
o samba, o forró, o arroz com feijão,
o calor; e ser inevitavelmente,
sobretudo, paulista: poder o somente
sotaque paulista, poder o prazer do
desestresse baiano e o suor gratificante
do ciclista urbano.
Mais que “só no Brasil”
é cada macaco no seu galho! Brasil aos
brasileiros.
Volto com orgulho, ou ,antes,
com a ciência da mentira por debaixo da especulação.
Volto eu, um pouco nós, brasileiro.

Flores Faladas

Flores Faladas por que
foram antes – ou era perfume espuletan-
do demasiado?
As flores aquelas que... E o que é
o medo? Por que é delas só o não ter?
As faladas porque não eram belas
e, portanto, como podiam? E quando
podiam-se belas, ai!, como não eram putas?
Flores Faladas )( mulheres e homens!
Sempre preparando, esperteza desenrolada
tão naturalmente que ingênua; e, pelas
costas, faladas burras: (as invejas!)
Pois que de repente topa-se em uma:
- Te sorrio, por favor, um instante de deslumbramento?
- Não! És louco? Responde-nos.
Somos, quase sempre, os últimos a saber...