segunda-feira, 23 de junho de 2008

Eram muitas faltas mudas que preenchiam minha vida. Eram as ausências familiares e a convivência inexistente das cidades, eram as inevitáveis comparações físicas e, sobretudo, as de origem – deflagradas nos hábitos e posses materiais, eram as exigências dos valores invertidos de uma classe pelega, presa entre a falsa esperança dos louros e o medo da distante realidade das tábuas de cortiço... E tudo ferozmente presentificado pelo ateísmo institucionalizado raras saídas apresentava. Eis que o encanto que despertava em mim o alivio de poder imaginar-se acompanhado nos sábados à noite, de poder imaginar-se suficientemente belo para uma pessoa e poder substituir qualquer necessidade material pela hóstia da paixão, esse encanto refluía seus reflexos sobre a imagem que eu formava de mulheres que acabara de conhecer, “o que era estar inteiramente pronto para amá-las. Pois julgar que uma criatura participa de uma existência desconhecida em que seu amor nos faria penetrar é, de tudo o que exige o amor para nascer, aquilo a que ele mais se prende e que o faz desdenhar do resto. Até as mulheres que pretendem só avaliar um homem pelo físico vêem nesse físico a emanação de uma vida especial."(Proust)

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